27 de jul. de 2011

O paradoxo da boa saúde- Primeira parte






Ao postar o texto abaixo sobre o Colesterol e os mitos que pregam sobre ele na atualidade, me atentei para observações que venho fazendo há tempos sobre a vida de algumas pessoas  como dos mais antigos que eu conheci.
Começo pela minha avó paterna; Descendente de alemães na terceira geração e de portugueses, minha avó nasceu no interior de Minas Gerais onde viveu até a sua morte aos 115 anos. Durante sua vida teve seis filhos, casou-se duas vezes tendo ficado viúva do primeiro esposo e do segundo também. Naquele tempo os recursos da medicina eram NADA em comparados ao hoje em dia. Minha avó certamente teve os seus seis filhos em casa, assistida por uma parteira. Ela, minha avó vivia às margens do Rio Jequitinhonha no Norte de Minas, na divisa com o estado da Bahia onde o sol é escaldante durante todo o verão e a seca uma realidade comum para a região de Caatinga e semi-árido. Uma pessoa de pele tão branca e olhos tão azuis como minha avó certamente contrairia doenças de pele como câncer. Mas não, apenas a pele ressecou-se mais cedo provocando muitas rugas em razão da constante exposição ao sol.
O leite consumido era natural, extraído da vaca com toda a sua gordura amarelinha que origina uma deliciosa manteiga até hoje nas fazendas do interior mineiro e do leite puro, o delicioso queijo canastra tradicional e gordo.
A carne era consumida diariamente e sempre. Ovo sempre caipira. Comida preparada somente com gordura de porco caipira engordado no quintal.
Resumo sobre minha avó Dona Camila: Ela nunca consumia bebida alcoólica, mas gostava de um cigarrinho de fumo de rolo e de palha. Mesmo com todas as limitações da Caatinga do Vale Jequitinhonha, minha avó viveu até os seus 115 anos de idade, gozando de muita saúde e lucidez, segundo ao que a família sempre me descreveu. Durante toda  vida fora muito enérgica, exigente e impaciente, mas sempre magrinha, sempre mantendo o mesmo peso de uma mulher esguia, magra tal como quando moça. Este equilíbrio do peso se deu pela genética hereditária, mas também pelo trabalho árduo do campo que proporciona atividade física constante.

Meu pai faleceu aos 50 anos de idade. Era bem branco, geneticamente alemão como minha avó. De temperamento explosivo, ele não tolerava ofensas nem injustiças. Como todo bom mineiro, meu pai cozinhava muito bem, amava preparar sua comida apimentada e gorda. Seus bifes sempre tinham que ser mau passados, escorrendo sangue. Ele era adepto de uma boa carne e não vivia sem a mesma nas suas refeições, mas também e sempre adepto da bebida alcoólica, a cachaça pura da qual se tornou quase dependente.
Meu pai era de estatura mediana, tinha um bom corpo, era dinâmico, ativo, intelectual, amante da leitura, da poesia, das artes em geral. Um escritor, poeta e artesão. Morreu sem poder publicar nada do que escrevia.
Também gostava de um cigarro de palha, um cachimbo e um pozinho de fumo que naquele tempo chamava-se: Rapé (era mantido em uma minúscula latinha bem tampada para conservar o aroma puro do fumo com sementes de Imburana. Vez ou outra, com as pontas dos dedos apanhava-se uma pitada e a colocava na entrada da narina, aspirando para dentro. Tudo que sei sobre essa prática antiga e bizarra é que deixava o nariz sujo e provocava espirros, mas todos os senhores os mais tradicionais gostavam daquilo).
Meu pai sofreu três AVCS,(Acidente Vascular cerebral),o primeiro quando eu nasci e ele tinha 43 anos de idade, o segundo cinco anos depois , no terceiro,dois anos depois ,este fora fatal. Ele faleceu aos cinqüenta anos de idade o que se pode considerar uma morte prematura na atualidade.
Observações sobre ambos:

Minha avó viveu a vida toda na pequena cidade de Guarani, hoje Guaranilândia  cuja população naquele tempo não devesse ultrapassar a seis mil habitantes.
Meu pai migrou-se para a Capital aos dezesseis anos de idade numa situação bem traumática e desde então sua vida foi acometida de uma turbulência absurda até o dia da sua morte.
Minha única tia Adelina, irmã do meu pai, tem hoje 104 anos de idade. Continua a viver na sua cidadezinha natal, no norte de Minas Gerais de onde nunca saiu para nada.
Quando fui a sua pequena cidade pela primeira vez fiquei pasma ao perceber o enorme calor de verão quase insuportável. Estive lá no mês de janeiro. Enquanto as chuvas derrubavam barreiras na saída de Belo Horizonte, o sol castigava a terra e a vida das pessoas no Norte Mineiro e lá estava tia Adelina, aos seus noventa e dois anos na época, lendo sem precisar de óculos, recitando poesias, comendo sem uma salada verde, sem frutas. Tomando banho frio e feliz como sempre, cantando a vida como se tudo fosse maravilhoso a sua volta e não lhe faltasse absolutamente nada. Seus cabelos ainda não eram totalmente brancos, estavam levemente grisalhos. Apenas a pele era bem enrugada em razão do sol sempre tão forte. Meu avô era descendente de índio e escravo e minha tia o puxou sendo então parda de cabelos finos e encaracolados.
Estive na cidade de Jacinto onde vive minha tia, em 2001. Passaram-se dez anos desde o nosso encontro em razão da distancia e das contingências da nossa vida, porém, ligo sempre para lá. Tinha Adelina continua firme, até hoje, ouve menos, enxerga menos, mas continua lúcida. Não fala ao telefone, porém sabe que eu sou sua sobrinha e pergunta sempre pelo meu irmão.
Em fim... Tia Adelina é um exemplo de que nem tudo que a medicina explica é real na questão da longevidade e da boa dieta alimentar, pois ela sobreviveu à perda dos seus pais, de um filho de quem ela nem pode se despedir no velório por ter falecido tão longe. Sobreviveu a uma cirurgia de córnea voltando a enxergar sem necessidade de óculos. Vivendo naquela condição que eu poderia dizer precária de uma região onde a seca castiga e o calor também, ela já vai indo ultrapassando o seu centenário tal como a sua mãe, minha avó Camila.


2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa amei essas histórias de sua família... Brava gente e de saúde invejável... Seu pai gostava de poesias, se eu ñ me ingano vc disse q tb gosta ou escreve, é isso? Bem, eu também gosto e escrevo. Adoro pessoas que contam sobre sua vida e da família de um modo tão meigo e familiar de se ouvir... Parabéns amiga! Bj, Patrícia.

Anônimo disse...

ah tb gostei o novo modelo do blog ta show.

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